terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Portugal é principal destino de alunos de graduação do Ciência sem Fronteiras

Portugal é o principal destino dos estudantes brasileiros de graduação bolsistas do Programa Ciência sem Fronteiras. Do total de 12.193 alunos incluídos no programa, praticamente um em cada cinco optou por cursar parte do ensino superior em uma instituição lusitana.
Há em Portugal 2.343 alunos do Brasil - 20 a mais do que o número de bolsistas de graduação nos Estados Unidos, principal destino no programa se forem considerados também os pesquisadores (pós-graduandos). Os dados, referentes a setembro, são do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
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Os 783 bolsistas da Capes estão matriculados em mais de uma dezena de cursos (desde a área de saúde à tecnologia espacial) de 41 universidades e institutos portugueses. O CNPq não informou a distribuição detalhada dos seus bolsistas. Além dos graduandos, Portugal recebe 329 doutorandos (84 fazendo curso integral no país, com duração de cerca de quatro anos) e mais 103 pós-doutorandos, por meio do programa.
O total de estudantes e pesquisadores brasileiros das áreas de tecnologia e biomédica em Portugal (2.775) é inferior apenas ao dos Estados Unidos (3.898). O número já supera o de destinos tradicionais de pesquisadores brasileiros como a França (2.478), Espanha (2.261), o Canadá (1.408), a Alemanha (1.111) e o Japão (680).
Entre os motivos para a escolha de Portugal está a inexistência de barreira linguística, uma vez que o país não exige exame de proficiência dos brasileiros, diferentemente dos Estados Unidos, por exemplo, que cobram de estudantes estrangeiros o Test Of English as a Foreign Language, Toefl. Outro fator que atrai estudantes brasileiros é a possibilidade de integração à produção científica na Comunidade Europeia. Além disso, Portugal, apesar da crise, mantém subvenções como a oferta de albergues para estudantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e tem custo de vida mais baixo que outros destinos da Europa com atividade econômica mais forte, como a Alemanha, Inglaterra e França.
Estudante de Química Industrial na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) Aline Pacheco Albuquerque diz que a escolha de Portugal foi motivada pelo fato de o país não exigir fluência em nenhum outro idioma. "É uma universidade boa que não ia exigir domínio de outra língua no processo de seleção", diz a estudante se referindo à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde é bolsista.
Para o vice-reitor da Universidade de Coimbra, Joaquim Ramos de Carvalho, o estudante do Ciência sem Fronteiras tem a oportunidade de ter contato com a produção científica europeia. "Estamos muito empenhados para que os estudantes do Ciência sem Fronteiras não se limitem à presença em sala de aula, queremos que tenham interação com toda parte de inovação e transferência de saber e também com a nossa rede europeia de contatos e de projetos."
A presença de tantos acadêmicos brasileiros em Portugal muda o patamar de cooperação dos dois países, avalia o Itamaraty. Juntamente com o Ano do Brasil em Portugal, o Programa Ciência sem Fronteiras tem sido citado pela diplomacia brasileira como um dos principais alavancadores da aproximação entre os dois países. "Não é só a celebração [cultural] que nos aproxima, mas também a modernidade dos dois países", comentou o chanceler brasileiro Antonio Patriota ao receber em setembro, em Brasília, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Portas.
 
Para o embaixador do Brasil em Portugal, Mario Vilalva, os dois países vivem "um momento mágico das relações bilaterais" e "há uma enorme convergência de interesses", como na área de cooperação científica.
Segundo o edital da Capes e do CNPq, o Programa Ciência sem Fronteiras visa a "propiciar a formação de recursos humanos altamente qualificados nas melhores universidades e instituições de pesquisa estrangeiras". O objetivo é promover a internacionalização da ciência e tecnologia nacional, estimulando estudos e pesquisas de brasileiros no exterior, com a expansão do intercâmbio de graduandos e graduados.
Cortes orçamentários
A austeridade imposta às despesas públicas pelo governo português e os cortes de financiamento das universidades lusitanas, previstos no Orçamento de Estado 2013, em tramitação na Assembleia da República (equivalente ao Congresso Nacional), não afetarão a capacidade de recepção dos estudantes brasileiros nas universidades portuguesas que acolhem bolsistas do Programa Ciência sem Fonteira.
"As restrições orçamentárias que temos não afetam a qualidade das nossas universidades", garantiu o ministro da Educação e da Ciência de Portugal, Nuno Crato. Para o próximo ano, está previsto um enxugamento de 3,2% no orçamento das universidades e dos institutos superiores. Segundo Crato, essa contenção de despesas será apenas por "um certo período".
"Temos todos a preocupação de não diminuir a qualidade das nossas universidades e centros de investigação, que têm registrado um progresso contínuo e continuarão a registrá-lo", disse o ministro. "O governo tem presente que o trabalho das universidades é importante para o país e que é preciso incentivar o crescimento das instituições que têm provas dadas de excelência, apesar do difícil contexto em que vivemos", completou. 
Portugal foi o país europeu que registrou o maior crescimento no número de formandos de matemática, ciências e tecnologia na última década. Segundo dados da Rede Eurydice, agência de educação, cultura e audiovisual da Comissão Europeia, a porcentagem dos formandos nessas áreas passou de 17% do total de licenciados, em 2001, para 21% em 2010.
 
"Nos últimos anos, Portugal desenvolveu-se extraordinariamente no aspecto científico. Temos centros e universidades que são competitivos com o que de melhor se faz na Europa e no mundo", destaca Nuno Crato.
 
Segundo o ministro, prova da excelência do país na área científica está na seleção, este ano, de nove pesquisadores portugueses para as bolsas do Conselho Europeu de Investigação (ERC) em áreas como engenharia informática, química e ciências biomédicas. "São bolsas altamente competitivas e recebê-las mostra a grande qualidade do sistema científico nacional."
Além da projeção de Portugal no cenário europeu, Crato defende a parceria com o Brasil. "Isso [a cooperação com o Brasil] ajudará a dinamizar os nossos programas e a torná-los ainda mais internacionais. Ajudará também, creio, a desenvolver no Brasil a nova geração de cientistas, técnicos e diplomados de que este grande país necessita para o seu desenvolvimento."
A aproximação científica entre Brasil e Portugal não ocorre apenas por meio do Ciência sem Fronteiras. No mês passado, o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos Portugueses assinou com o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, um protocolo que permitirá o intercâmbio de 4,5 mil estudantes brasileiros nos próximos três anos.
Além disso, Brasil e Portugal assinaram um memorando de entendimento para que o reconhecimento de graus ou atribuição de equivalências de formação em cursos superiores (como engenharia e arquitetura) se baseie em mecanismos de avaliação e validação existentes nos dois países. Segundo Crato, "as universidades portuguesas têm feito um esforço contínuo no sentido de estreitar o diálogo com as congêneres brasileiras para aperfeiçoar o sistema de reconhecimento de graus".
Universidade de Coimbra - A Universidade de Coimbra é o principal destino dos estudantes do Programa Ciência sem Fronteiras em Portugal. Segundo dados da Capes, dos 783 estudantes de graduação enviados a Portugal pela agência, 361 foram alocados na Universidade de Coimbra.
A estimativa da Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros em Coimbra (Apeb-Coimbra) é que cerca de 2,5 mil estudantes brasileiros frequentem as aulas de diversos cursos (exatas, biomédicas e humanas) e em diferentes níveis (da graduação ao pós-doutorado). Além de receber o maior número de estudantes brasileiros do programa, cabe à Universidade de Coimbra secretariar a recepção dos alunos e distribuir os bolsistas por todas as universidades e instituições em Portugal.
A Universidade de Coimbra é uma referência histórica para o Brasil desde a época colonial. A instituição, uma das mais antigas da Europa (século 13), acolhe brasileiros desde o século 16. Segundo o vice-reitor, Joaquim Ramos de Carvalho, 78% dos ministros brasileiros, entre 1822 e 1940, foram estudantes em Coimbra.
 
Carvalho acredita que o acesso da elite brasileira aos estudos em Coimbra contribuiu para a formação do Brasil como nação, inclusive para a manutenção da extensão do território. "Se houvesse seis universidades no Brasil, muitas pessoas da elite provavelmente não teriam se conhecido", especula sobre a "capacidade de Coimbra de unir pontes do Brasil que, de outra maneira, nunca se encontrariam".
"Cada universidade faz uma elite, cada elite faz um país. No caso do Brasil, não. As razões não foram as melhores, mas os portugueses nunca deixaram perder o controle sobre a educação superior na então colônia, de modo que chegamos ao século 19 a um conjunto relevante de pessoas que se conheciam", explica o vice-reitor.
Segundo ele, essa é uma das razões para a existência de um país de língua portuguesa e de vários países de língua espanhola na América Latina. "Os espanhóis foram criando universidades à medida que foram colonizando as regiões, desde o século 17. Há uma correspondência de quase um para um das universidades criadas e dos países que hoje existem", pondera Joaquim Ramos Carvalho.
Atualmente, a Universidade de Coimbra reúne estudantes de 82 nacionalidades. A comunidade universitária equivale a um quarto da população da cidade de Coimbra (cerca de 23 mil pessoas em um total de 100 mil habitantes). Com tal proporção, muito do que ocorre na cidade gira em torno dos alunos da universidade. "É uma cidade dos estudantes", comenta Viviane Carrico, presidenta da Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros em Coimbra (Apeb-Coimbra), destacando que as opções, tanto culturais quanto de lazer, são inúmeras.
(Agência Brasil)
 
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